quinta-feira, 14 de março de 2013

Primeira homilia do Papa Francisco

Na íntegra

Nestas três leituras vejo que há algo em comum: é o movimento. Na primeira leitura o movimento no caminho; na segunda leitura, o movimento na edificação da Igreja; na terceira, no Evangelho, o movimento na confissão. Caminhar, edificar, confessar.
Caminhar. “Casa de Jacó, vinde, caminhemos na luz do Senhor” (Is 2, 5). Esta é a primeira coisa que Deus disse a Abraão: Caminha na minha presenaça e seja irrepreensível.
Caminhar: a nossa vida é um caminho e quando paramos, as coisas não caminham. Caminhar sempre, na presença do Senhor, na luz do Senhor, buscando viver daquela maneira irrepreensível que Deus pedia a Abraão, na sua promessa.

Edificar. Edificar a Igreja. Fala-se de pedras: as pedras tem consistência; mas pedras vivas, pedras ungidas pelo Espírito Santo. Edificar a Igreja, a Esposa de Cristo, sobre aquela Pedra Angular que é o próprio Senhor. Eis um outro movimento da nossa vida: edificar.
Terceira, confessar. Nós podemos caminhar quanto queremos, nós podemos edificar tantas coisas, mas se não confessamos Jesus Cristo, as coisas não caminham. Nos tornaremos uma ONG assistencial, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. Quando não se caminha, para-se. Quando não se edifica sobre pedras o que acontece? Acontece o que acontece com as crianças na praia quando fazem castelos de areia, tudo cai, é sem consistência. Quando não se confessa Jesus Cristo, me vem a frase de Léon Bloy: “Quem não reza ao Senhor, reza ao diabo”. Quando não se confessa Jesus Cristo, se confessa a mundanidade do diabo.
Caminhar, edificar, construir, confessar. Mas não é uma coisa fácil, porque no caminhar, no construir, no confessar às vezes há problemas, há movimentos que não são propriamente do caminho, mas são movimentos que nos levam para trás.
Esse Evangelho prossegue com uma citação especial, o próprio Pedro que confessou Jesus. Diz: “sim, tu és o Messias, o filho do Deus vivo”. Mas não vamos falar de Cruz. Isso não tem nada a ver. Sigo com outras possibilidades, não com a Cruz. Quando caminhamos sem a Cruz, quando edificamos sem a Cruz e quando confessamos com Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor. Somos mundamos, somos bispos, cardeais, papa, mas não discípulos do Senhor.
Gostaria que todos nós depois desses dias de graça, tenhamos a coragem de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor. De edificar a Igreja com o Sangue do Senhor que derramou sobre a Cruz e confessar a única glória desse crucifixo. E assim a Igreja poderá prosseguir.
Faço votos de que a todos nós, o Espírito Santo, com a oração a Nossa Senhora, nos conceda essa graça: caminhar, edificar e confessar Jesus Cristo crucificado.
Assim seja!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Arcebispo de Olinda e Recife se diz surpreso com escolha de novo Papa

Dom Fernando Saburido comentou decisão na tarde desta quarta.

Fato de Bergoglio ser jesuíta e não estar entre favoritos chamou atenção.

Surpreso. Foi assim que se sentiu dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife, quando soube da escolha do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio como novo Papa, após anúncio às 15h08 (horário de Brasília) desta quarta-feira (13), 19h08 no Vaticano, onde aconteceu o conclave. Bergoglio, de 76 anos, escolheu se chamar Papa Francisco I.
“Ele não estava entre os favoritos. É um jesuíta e dificilmente os jesuítas assumem esses cargos, não se tornam nem bispos, por causa do voto de pobreza. Tem a idade também, ele tem 76 anos, é uma idade muito parecida com a que Bento XVI tinha quando foi eleito, 78 anos. Por outro lado, é uma pessoa querida por todos, porque é extremamente simples e humilde, tanto que na primeira aparição pública, antes mesmo de abençoar os fieis, ele pediu que fizessem orações por ele, porque é uma carga muito pesada”, comentou o religioso pernambucano.
Ainda de acordo com dom Fernando Saburido, o novo Papa tem alguns desafios pela frente, diante dos escândalos envolvendo integrantes da Igreja Católica – como o cardeal escocês Keith O’Brien, que admitiu conduta sexual imprópria, pediu demissão de seu cargo e não participou do conclave – e também por causa do vazamento de documentos secretos no chamado escândalo VatiLeaks. “A mídia tem falado tanto dos problemas atuais, questões econômicas, que a Igreja está com problemas lá no banco do Vaticano. As questões éticas também... e problemas de organização da própria Igreja. Tudo isso são coisas que o Papa vai ter que ir fazendo devagarinho, juntamente com seu conselho. Uma vez eleito, ele vai ter que constituitr seus colaboradores mais próximos, e vai depender muito disso. A gente vai ter uma visão real do Papa Francisco I a partir de agora, quando ele começar a escolher aqueles que vão assessorá-lo de perto, como ele vai constiuir o grupo que vai formar as comissões que estarão mais próximas dele”, apontou dom Fernando Saburido.
O arcebispo de Olinda e Recife também ressaltou o fato de Francisco I ser o primeiro Papa vindo da América Latina. “Os brasileiros torciam para que fosse um brasileiro, mas já foi muita coisa para nós termos o primeiro Papa latino-americano escolhido. Foram muitos europeus, alguns africanos, então isso é muito significativo, considerando que é na América Latina que está a maior quantidade de fiéis católicos”, disse.
Perfil
O argentino Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, agora Papa Francisco I, nasceu em Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936. Arcebispo de Buenos Aires e primado da Argentina, ele é um homem tímido e de poucas palavras, mas com grande prestígio entre seus seguidores, que apreciam sua total disponibilidade e seu estilo de vida sem ostentação. É reconhecido por seus dotes intelectuais e considerado dialogante e moderado, amante do tango e do time de futebol San Lorenzo.
Antes de seguir carreira religiosa, Bergoglio formou-se engenheiro químico. Escolheu depois o sacerdócio, quase uma década após perder um pulmão por uma doença respiratória e de deixar seus estudos de química, ingressando em um seminário no bairro de Villa Devoto. Em março de 1958, entrou no noviciado da Companhia de Jesus, congregação religiosa dos jesuítas, fundada no século XVI.
Em 1963, Bergoglio estudou humanidades no Chile, retornando à Argentina no ano seguinte. Entre 1964 e 1965, foi professor de literatura e psicologia no Colégio Imaculada Conceição de Santa Fé. Em 1966, ensinou as mesmas matérias em um colégio de Buenos Aires.
Entre 1967 e 1970, Bergoglio estudou teologia, tendo sido ordenado sacerdote no dia 13 de dezembro de 1969.
Em menos de quatro anos chegou a liderar a congregação jesuíta local, um cargo que exerceu de 1973 a 1979.
Foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, entre 1980 e 1986, e, depois de completar sua tese de doutorado na Alemanha, serviu como confessor e diretor espiritual em Córdoba.
Em 1992, Bergoglio foi nomeado bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires. Em 1997, ele virou arcebispo titular de Buenos Aires. Atuou como presidente da Conferência Episcopal da Argentina de 2005 até 2011.
Foi criado cardeal pelo então Papa João Paulo II em 1998. Em 2001, João Paulo II o nomeou primaz da Argentina. Ele ocupou então a presidência da Conferência Episcopal durante dois períodos, até que deixou o posto porque os estatutos o impediam de continuar.
Bergoglio foi na Santa Sé membro da Congregação para o Culto Divino e a disciplina dos Sacramentos; da Congregação para o Clero; da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica; do Pontifício Conselho para a Família e a Pontifícia Comissão para a América Latina.
Filho de uma família de classe média com cinco filhos, de pai ferroviário e mãe dona de casa, o novo Papa é pouco inclinado a aceitar convites particulares e tem um "pensamento tático", de acordo com especialistas.
Polêmica na ditadura
A ascensão religiosa de Jorge Mario Bergoglio coincidiu com um dos períodos mais obscuros da Argentina: a ditadura militar que governou o país entre 1976 e 1982. Ele foi acusado de retirar proteção de sua ordem a dois jesuítas que foram sequestrados clandestinamente pelo governo militar por fazerem trabalho social em bairros de extrema pobreza. Ambos os padres sobreviveram a uma prisão de cinco meses.
O caso é relatado no livro "Silêncio", do jornalista Horacio Verbitsky, também presidente da entidade privada defensora dos direitos humanos CELS. A publicação leva em conta muitas manifestações de Orlando Yorio, um dos jesuítas sequestrados, antes de morrer por causas naturais em 2000.
"A história o condena: o mostra como alguém contrário a todas as experiências inovadoras da Igreja e, sobretudo, na época da ditadura, o mostra muito próximo do poder militar", disse há algum tempo o sociólogo Fortunato Mallimacci, ex-decano da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.
Os defensores de Bergoglio dizem que não há provas contra ele e que, pelo contrário, o novo Papa ajudou muitos a escapar das Forças Armadas durante os anos de chumbo no seu país.
Preocupação social
No Vaticano, longe de possíveis manchas dos tempos de ditadura, é esperado que o homem silencioso que agora é Papa conduza a estrutura da Igreja Católica com mão de ferro e com uma marcada preocupação social.
Políticos argentinos foram repetidamente alvo da retórica afiada do sacerdote, acusados por ele de não combater a pobreza e preocuparem-se apenas em seguir no poder. Em 2010, ele também enfrentou a presidente Cristina Kirchner quando o governo apoiou uma lei para permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
"Não vamos ser ingênuos: não se trata de uma simples luta política; é uma tentativa de destruição do plano de Deus", escreveu Bergoglio em carta, dias antes de o projeto ser aprovado pelo Congresso.
Conhecido por sua simplicidade, Bergoglio vivia sozinho, em um apartamento, no segundo andar do edifício da Cúria, ao lado da Catedral de Buenos Aires, no coração da cidade. A imprensa local lembra hoje que, da janela de seu apartamento, foi testemunha da violência na Praça de Maio durante a crise de dezembro de 2001.
Indignado, ligou para o ministro do Interior para lhe pedir que desse instruções para que os agentes diferenciassem entre ativistas e correntistas que reivindicavam seus direitos.
Em 2004, após a tragédia da boate Cromagnon, percorreu os hospitais da cidade para ajudar as famílias das vítimas .
Pouco amigo de aparições na imprensa, Bergoglio tentou manter um baixo perfil público, costuma usar transporte público e inclusive se confessa na Catedral. Ele foi dos poucos cardeais que, quando chegou a Roma para a eleição do novo papa, não usou veículos oficiais.
O novo papa é um amante dos autores clássicos, gosta de tango e não esconde sua paixão pelo futebol, especialmente pelo San Lorenzo de Almagro – tem uma camisa assinada pelo elenco
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O conclave elegeu nesta quarta-feira (13) o cardeal Jorge Mario Bergoglio como novo Papa, sucessor de Bento XVI à frente da Igreja Católica Apostólica Romana. O nome do escolhido pelos 115 cardeais foi anunciado pelo mais velho dos cardeais-diáconos, o francês Jean-Louis Tauran. Bergoglio escolheu se chamar Papa Francisco I.
A decisão surpreendeu, pois o argentino, citado inicialmente, não aparecia nas últimas listas de favoritos, que incluíam o brasileiro Dom Odilo Scherer e o italiano Angelo Scola.
A fumaça branca apareceu por volta das 19h08 locais (15h08 de Brasília), e foi recebida com festa pela multidão que tomava a Praça de São Pedro. Os sinos da Basílica de São Pedro tocaram.
Em sua primeira bênção, para uma Praça de São Pedro lotada de fiéis apesar da chuva, o argentino afirmou que "parece que seus colegas cardeais foram buscar o Papa no fim do mundo", em uma referência à sua Argentina natal.
Em tom sério, ele pediu aos cerca de 1,2 bilhão de católicos do mundo para "empreender um caminho de fraternidade, de amor" e de "evangelização".
Ele também agradeceu ao seu predecessor, o agora Papa Emérito Bento XVI, em um gesto sem precedentes na Igreja moderna: um Papa agradecendo a um sucessor vivo.
"Rezem por mim, e nos veremos em breve", afirmou, acrescentando que, nesta quinta-feira, pretende rezar para Nossa Senhora. "Boa noite a todos e bom descanso", finalizou, na varanda da Basílica de São Pedro, sob aplausos da multidão
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Secretário-geral da CNBB se diz surpreso com Papa latino-americano



Para Leonardo Steiner, eleição de Bergoglio é sinal que 'a Igreja se abre'.
Ele disse que não há frustração na CNBB por novo Papa não ser brasileiro.

O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Leonardo Steiner, afirmou nesta quarta-feira (13) que foi surpreendido com a eleição de um Papa latino-americano. Steiner deu entrevista após o anúncio do Vaticano de que o novo Papa é o argentino Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires.
“É um momento de muita alegria para todos nós [...]. Fomos surpreendidos com a eleição de um latino-americano. Creio que até ficamos emocionados de recebermos uma notícia tão bonita”, afirmou Steiner à imprensa na sede da CNBB em Brasília.
O secretário-geral negou  que haja frustração na CNBB por não ter havido a escolha de um representante do Brasil. O cardeal brasileiro Dom Odilo Pedro Scherer chegou a ser citado na imprensa italiana como um dos favoritos.
“Nós estamos felizes estamos feitos por já ter um novo papa. A escolha de um latino -americano bem mostra que a Igreja se abre, que está voltada para toda a Igreja, não só para a Europa”, declarou Steiner.
Para Steiner, o novo Papa pode ter “trânsito mais livre” para lidar com temas delicados para os católicos, como as denúncias de casos de pedofilia envolvendo membros da igreja. “Sabemos que Bento XVI enfrentou isso com muita ousadia, e isso será levado adiante. Temos certeza que ele levará adiante. Talvez não é por nada que tenham escolhido um latino-americano, que pode ter trânsito mais livre em questões como essa”, declarou.
"Ele, em primeiro lugar, é um pastor. Não se trata de poder. Ele será também o que nós rezávamos e pedíamos: para que nós tivéssemos um pastor. Nós certamente teremos um grande pastor, sem deixar de ser um grande intelectual, o que a Igreja também precisa."O secretário-geral da CNBB disse ainda que não conhece Bergoglio pessoalmente, mas que o argentino é visto na Igreja como uma pessoa simples e próxima ao povo.
Steiner disse estar feliz pelo novo Papa ter decidido adotar o nome Francisco, em referência a São Franciso de Assis, santo conhecido pela caridade e por ter levado uma vida modesta.“Todos nós sabemos o que significa o nome Francisco, de Francisco de Assis. Isso ajuda a dar um pouquinho [a ideia de] como ele vê o serviço dele como bispo de Roma”, afirmou Steiner.
O secretário-geral também disse que o novo Papa deverá participar da Jornada Mundial da Juventude, evento da igreja Católica que ocorre em junho no Rio de Janeiro. Ao se referir à vinda de Bergoglio, Steiner brincou com a disputa do Brasil com a Argentina no futebol. “Nós temos a certeza que ele virá. Somo vizinhos da Argentina, apesar de disputarmos no futebol. Mas certamente ele virá”, declarou.
Perda de fiéis
Durante a coletiva de imprensa, Steiner também comentou o trabalho que precisa ser feito pela Igreja para evitar a perda de fiéis. Para Steiner, a tarefa de reconquistar fiéis da Igreja Católica não deve ser um desafio apenas do novo Papa eleito.
"A questão da perda de fiéis não está na figura do Papa. A questão da perda dos fiéis é também nossa, como Igreja, não só bispos e padres, a crermos mais profundamente na importância da mensagem do Evangelho. Naturalmente, essa experiência nós tentamos fazer na América Latina. Isso, com a presença de Francisco I em Roma, terá uma relevância", avaliou o secretário-geral na CNBB.
Veja íntegra de nota publicada pela CNBB para saudar o novo Papa:
"SAUDAÇÃO DA CNBB AO NOVO PAPA
'Bendito o que vem em nome do Senhor!' (Sl 118,26)
Tomada pela alegria e espírito de comunhão com a Igreja presente em todo o mundo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB eleva a Deus sua prece de louvor e gratidão pela eleição do novo Sucessor de Pedro, Sua Santidade Francisco I.
O tempo e as circunstâncias que antecederam a eleição de Francisco I ajudaram a Igreja a viver intensamente a espiritualidade quaresmal, rumo à vitória de Cristo celebrada na Páscoa que se aproxima. O momento é de agradecer a bondade de Deus pela bênção de um novo Papa que vem para guiar os fieis católicos na santidade, ensiná-los no amor e servi-los na humildade.
A eleição de Francisco I revigora a Igreja na sua missão de 'fazer discípulos entre todas as nações', conforme o mandato de Jesus (cf. Mt 28,16). Ao dizer 'Sim' a este sublime e exigente serviço, Sua Santidade se coloca como Pedro diante de Cristo, confirmando-Lhe seu amor incondicional para, em resposta, ouvir: 'Cuida das minhas ovelhas' (cf. Jo 21,17).
Nascido no Continente da Esperança, Sua Santidade traz para o Ministério Petrino a experiência evangelizadora da Igreja latino-americana e caribenha.
A expectativa com que o mundo acompanhou a escolha do Sucessor de Pedro revela o quanto a Igreja pode colaborar com as Nações na construção da paz, da justiça, da igualdade e da solidariedade.
Ao novo Papa não faltará a assistência e a força do Espírito Santo para cumprir esta missão e aprofundar na Igreja o dom do diálogo, em uma sociedade marcada pela pluralidade e pela diversidade, e o compromisso com a vida de todos, a partir dos mais pobres, como nos ensina Jesus Cristo.
Ao saudá-lo no amor de Cristo que nos une e na missão da Igreja que nos irmana, asseguramos-lhe a obediência, o respeito e as orações das comunidades da Igreja no Brasil, para que seja frutuoso o seu Ministério Petrino.
Com toda Igreja, confiamos sua vida e seu pontificado à proteção da Virgem Maria, mãe de Deus e mãe da Igreja.
Bem-vindo Francisco I! A Igreja no Brasil o abraça com amor!"

Veja repercussão do anúncio do novo Papa Francisco


Cardeal Jorge Mario Bergoglio é o 1º Papa latino-americano da história.
Decisão foi anunciada nesta quarta-feira (13) após dois dias de conclave.




1 comentários
O conclave elegeu nesta quarta-feira (13)o cardeal Jorge Mario Bergoglio, argentino, como novo Papa, sucessor de Bento XVI à frente da Igreja Católica Apostólica Romana.
O nome do escolhido pelos 115 cardeais foi anunciado pelo mais velho dos cardeais-diáconos, o francês Jean-Louis Tauran.
A decisão surpreendeu, pois o argentino, citado inicialmente, não aparecia nas últimas listas de favoritos, que incluíam o brasileiro Dom Odilo Scherer e o italiano Angelo Scola.
Arquidiocese do Rio de Janeiro, em comunicado oficial: "A festa de celebração dos fiéis reunidos na Praça São Pedro é a mesma que existe no coração de cada católico que acompanha o momento histórico pela internet e/ou televisão. A certeza de que o escolhido pelo colégio cardinalício foi o desejado por Deus para estar à frente da Igreja anima homens e mulheres de todas as nações à fé de que um novo tempo de graça tem início."Veja a repercussão do anúncio:
Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, em comunicado divulgado pela BBC: "Espero dar continuidade à cooperação entre as Nações Unidas e a Santa Sé, sob a liderança da Sua Santidade Papa Francisco. Compartilhamos objetivos comuns - da promoção da paz, justiça social e direitos humanos, à erradicação da pobreza e da fome - todos, elementos centrais para o desenvolvimento sustentável. Também compartilhamos a convição de que só podemos resolver os desafios interconectados do mundo de hioje através do diálogo."
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, em comunicado divulgado pela BBC:"Como o primeiro papa das Américas, sua escolha fala da força e da vitalidade de uma região que está cada vez mais influenciando o mundo. Junto com milhões de hispano-americanos, nós, nos Estados Unidos, compartilhamos a alegria deste dia histórico. Como um defensor dos pobres e dos mais vulneráveis, ele carrega a mensagem de amor e de compaixão que inspira o mundo há mais de 2 mil anos - que no rosto de cada um, vemos o rosto de Deus."
Cristina Kirchner, presidente da Argentina, em carta divulgada pela agência AFP: "É nosso desejo que tenha, ao assumir a condução e guia da Igreja, um frutífero trabalho pastoral desempenhando tão grandes responsabilidades em prol da justiça, da igualdade, da fraternidade e da paz da Humanidade."
David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, em comunicado divulgado pela agência EFE: "Um dia transcendental para os 1,2 bilhão de católicos ao redor do mundo, no qual Sua Santidade o Papa Francisco I foi nomeado o Papa de Roma número 266."
Dilma Rousseff, presidente da República Federativa do Brasil, em comunicado oficial:"Em nome do povo brasileiro, congratulo o novo Papa Francisco I e cumprimento a Igreja Católica e o povo argentino. Maior país em número de católicos, o Brasil acompanhou com atenção o conclave e a escolha do primeiro Papa latino-americano. É com expectativa que os fiéis aguardam a vinda do papa Francisco I ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, em julho. Esta visita, em um período tão curto após a escolha do novo pontífice, fortalece as tradições religiosas brasileiras e reforça os laços que ligam o Brasil ao Vaticano."
Dom Antonio Carlos Altieri, arcebispo de Passo Fundo, ao G1: "A gente sabe que a nacionalidade, como tudo no mundo moderno, não é tão importante. O novo Papa vai dar uma resposta adequada. É a pessoa certa, no momento certo.O Papa João Paulo II já esperava que a América Latina fosse a resposta. Ele esperava já uma terceira via. É uma grande alegria termos um novo guia, um novo representante. Agora também se soma a isso um Papa latino-americano, onde o catolicismo é mais generoso. Certamente a escolha do novo Papa trará muitos argentinos à Jornada Mundial da Juventude, que ocorre no Rio de Janeiro neste ano ainda. O novo Papa se compromete a renovar a esperança de uma evangelização mais significativa. O Papa Francisco I já estava no coração de Deus e espero que ele tenha mais energia que o Papa Bento XVI."
Dom Caetano Ferrari, bispo da Diocese de Bauru (SP), ao G1: "Acredito que ele vai continuar nessa linha de renovação que o Vaticano pede, para que as estruturas sejam mais simplificadas, de se ter uma relação mais direta das igrejas locais do mundo com o Papa, sem grandes burocracias."
Dom Edmar Perón, bispo-auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, ao G1: "Todos nós fomos pegos por uma grandíssima surpresa. Ele escolheu um lema para sua vida quando escolheu o nome Francisco. Pelo que lemos é uma pessoa muito simples."
Dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife, ao G1: "Ele não estava entre os favoritos. É um jesuíta e dificilmente os jesuítas assumem esses cargos, não se tornam nem bispos, por causa do voto de pobreza. Tem a idade também, ele tem 76 anos, é uma idade muito parecida com a que Bento XVI tinha quando foi eleito, 78 anos. Por outro lado, é uma pessoa querida por todos, porque é extremamente simples e humilde, tanto que na primeira aparição pública, antes mesmo de abençoar os fieis, ele pediu que fizessem orações por ele, porque é uma carga muito pesada. Esse Papa é um sinal de renovação, porque ele é um homem muito correto, íntegro em suas decisões. As mudanças devem começar já na escolha das pessoas que vão assessorá-lo."
Dom Frederico Heimler, arcebispo de Cruz Alta, ao G1: "É fantástico que a escolha tenha sido por um argentino. É a primeira vez que um Papa vem de fora da Europa. É um grande sinal de que os cardeais, visivelmente, estão querendo mudanças na igreja católica. Até a questão da escolha do nome indica mudanças. Eu confesso que gostaria muito que fosse um brasileiro o escolhido, mas acho que ainda não era a hora do Brasil. Sendo da América do Sul, já é um grande sinal. Os cardeais valorizaram o trabalho que vem sendo feito em outros continentes. É um sinal claro de mudanças que estão por vir."
Dom Hélio Adelar Rubert, arcebispo de Santa Maria, ao G1: "Foi uma surpresa e uma grande alegria. É uma boa notícia para nossos irmãos argentinos. Estou muito agradecido a Deus por nossa escolha. Já rezamos bastante pelo novo Papa. Ficamos muito felizes. Na verdade, estávamos naquela expectativa (sobre Dom Odilo). Teve muita propaganda em cima disso, mas esta eleição que acontece no Vaticano é um serviço para a igreja, para humanidade. É diferente de outras eleições. O silêncio, as orações para que os cardeais descubram o que já estava no coração de Deus. Acho que esta eleição cria uma auto-estima na Argentina, um povo muito sofrido, e para nossa América. São novas esperanças."
Dom Jacinto Bergmann, arcebispo de Pelotas, ao G1: "A geografia não entra no critério da escolha do Papa. Sempre fui muito aberto a escolha do que poderia acontecer. Nunca coloquei este ou aquele como favorito. Acolho com muita alegria. Foi o escolhido de Deus. Igreja tem outros parâmetros para a escolha do papa. Nossa escolha não é por nacionalidade. O Papa latino-americano significa  que temos uma igreja viva. É uma alegria muito grande poder dizer que nós temos um filho para oferecer para ser o pastor universal."
Dom Luiz Mancilha Vilela, arcebispo de Vitória, ao G1: "Queremos um pastor, que saiba guiar o povo. Quando se apresentou, a primeira coisa que pediu aos fiéis que estavam na Praça de São Pedro é que rezassem por ele. Fiquei muito feliz com isso, mostra que ele quer a participação do povo. Será um bom líder. Sei que ele é jesuíta e por isso posso crer que é uma pessoa bem formada do ponto de vista intelectual e teológico. Por isso deve enfrentar os problemas com fé e coragem. A escolha do nome dele também foi baseada em suas crenças, pois São Francisco Xavier era jesuíta e grande evangelizador. Esse é um ponto que a Igreja busca muito hoje, a nova evangelização, que são novos métodos mais entusiastas, para estimular os fiéis."
Dom Milton Santos de Figueiredo, arcebispo de Cuiabá, ao G1: "Temos um Chico como Papa, o que não era o esperado. O Espírito Santo deu um baile em todas as previsões."
Dom Moacyr Grechi, arcebispo emérito de Porto Velho, ao G1: "O fato dele ser latino-americano não causou supresa. Ele é visto com bons olhos, é humilde. Em Buenos Aires só anda de ônibus. Estupenda, não podiam fazer escolha mais bonita. Tive a oportunidade na assembleia de Aparecida (SP) de estar com ele e é muito brincalhão. Ótima escolha."
Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, à agência Reuters: "Isso demonstra que a Igreja está olhando para o continente latino-americano. O Papa que viria seria o Papa de todos nós, independente da nacionalidade. Já se ouvia muito em Roma que era preciso se voltar para a América Latina. Esse sinal foi dado."
Dom Pedro Luiz Stringhini, bispo diocesano, ao G1: "Brasil e Argentina são países irmãos e fraternos e o continente americano é o mais católico do mundo. Fiquei muito feliz com a escolha. Este é um grande reconhecimento para o catolicismo latino-americano. Eu achei muito bonito ele (Papa) pedir para que o povo o abençoasse. Estou feliz e fiquei surpreso pelo fato de ele ter escolhido o nome Francisco."
Dom Tarcísio Scaramussa, bispo-auxiliar de São Paulo, em comunicado divulgado pela agência Reuters: "A partir de hoje, Pedro à frente da Igreja Católica Apostólica Romana, é Francisco I. Cabe a ele, agora, conduzir a Igreja - barca de Pedro - pelas águas agitadas do atual contexto social, político, cultural, econômico e religioso, com renovado ardor missionário no compromisso vivo e eficaz no anúncio do evangelho de Jesus Cristo. Cantamos um hino de louvor a Deus também porque em seus desígnios quis que à frente da Igreja tivesse um Papa latino-americano."
Flávio Scherer, irmão de dom Odilo Scherer, ao G1: "Não estava nas expectativas, e também pela idade. Foi eleito com 76 anos um Papa quase com a mesma idade do Bento XVI. Isso contradiz com toda expectativa de que fosse um Papa mais jovem. Não fiquei decepcionado. Estou aliviado, seria um peso muito grande para o meu irmão assumir."
Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo, em comunicado oficial: "Tenho a confiança de que o Papa Francisco, iluminado pelo Espírito Santo, terá a força espiritual para ser o portador da mensagem de Cristo, que nos fala de um mundo de Justiça, de igualdade e de mansidão. Com alegria, estou certo de que o Papa Francisco saberá dialogar com os desafios do mundo moderno, conservando, no entanto, os valores eternos da Igreja."
Leonardo Boff, teólogo brasileiro, à ANSA: "A verdade é que estou surpreso, eu não posso dizer nada sobre o novo Papa, é preciso esperar, mas a escolha foi rápida, tão rápida, que é surpreendente, só gostaria que o Papa eleito -- o qual não conhecemos ainda -- seja um Francisco I, um Papa de sandálias para caminhar."
Leonardo Ulrich Steiner, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao G1: "É um momento de muita alegria para todos nós [...]. Fomos surpreendidos com a eleição de um latino-americano. Creio que até ficamos emocionados de recebermos uma notícia tão bonita. Nós estamos felizes estamos feitos por já ter um novo Papa. A escolha de um latino-americano bem mostra que a Igreja se abre, que está voltada para toda a Igreja, não só para a Europa."
Monsenhor Antonio Catelan, assessor de doutrina da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Globo News: "No primeiro momento eu me recordei de São Francisco de Assis, um papa surgido num período em que se falava de necessidade de reformas profundas na Igreja, que se encontrava muito politizada. E São Francisco pregava, então, uma reforma que vinha da vivência do evangelho com simplicidade, o evangelho na sua integralidade. Depois, uma das palavras-chave do discurso improvisado do Papa Francisco foi o tema da fraternidade. É muito conhecido o cântico de São Francisco, onde ele chama de irmão, irmã, não só as pessoas, mas a natureza, até a morte."
Padre José Gonçalo Vieira, pároco da catedral de Belém, ao G1: "Para todos nós, foi uma surpresa gratificante e motivo de alegria o Santo Padre eleito que representa o continente latino, e isso nos dá grande satisfação. Que ele faça do seu santificado a igreja do mundo inteiro. O nome que ele escolheu como Francisco já representa o que ele quer que todos sejamos: instrumentos da paz e que busquemos a pobreza para confundir o coração dos poderosos. A característica do Papa Francisco I é a sua identificação com os pobres, então, nós esperamos que toda a cultura e o entendimento que o Papa Francisco tem venha trazer para o mundo a riqueza espiritual."
Paulino Scherer, irmão de dom Odilo Scherer, ao G1: "Meu irmão, dom Odilo, nos pediu pé no chão. Que o nome de fato poderia ser bem diferente dos que figuravam na mídia. Penso que não é um jogo de futebol, nem uma eleição política e, por isso, o nome de um argentino é bem vindo. Ter um irmão, de um país vizinho como Papa é uma honra. Haveria com certeza uma certa pressão. De toda forma estamos tranquilos com a decisão dos cardeais."
Roberto Romano, professor de Ética e Política da Unicamp, à agência Reuters: "Ele (Bergoglio) não corresponde à Igreja mais tradicionalista na Argentina, que teve um papel vergonhoso na ditadura militar... Ele não comunha daquela voz reacionária do clero anterior. Foi uma vitória das alas da Igreja que são contrárias a essa centralização e a esse poder desmedido da Cúria Romana... Isso é um indício muito interessante de mudança no relacionamento da cúria com os bispos."

Nome oficial do novo pontífice é Papa Francisco, diz Vaticano


Ele só será Francisco I quando houver um Francisco II, disse porta-voz.
Cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito nesta quarta (13).


Vaticano informou que o nome oficial do novo pontífice é Papa Francisco, sem número romano, e não Francisco I.

A confusão ocorreu porque o cardeal protodiácono, Jean Louis Tauran, anunciou o novo Papa apenas como Francisco.
O primeiro boletim do Vaticano sobre o Papa o chama de Francisco.
"Ele se tornará Francisco I após termos um Francisco II", disse.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) também adotou a nomenclatura.

Arcebispo primaz diz que novo Papa assumiu missão de 'reconstruir igreja'

Dom Murilo diz que escolha por 'Francisco' lembra missão dada por Cristo.

Em entrevista, ele destaca que decisão mostrou importância do estudo.


Dom Murilo Krieger (Foto: Reprodução/TV Bahia)Dom Murilo Krieger comentou sobre escolha do
Papa (Foto: Reprodução/TV Bahia)
O Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, disse que a eleição do argentino Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, como novo Papa, mostra a importância do estudo para o exercício da função.
Ele concedeu entrevista nesta terça-feira (13) após o resultado do conclave no Vaticano que resultou na primeira autoridade máxima da Igreja Católica com origem latino-americana, que agora passa a ser chamado de "Francisco".
"É um homem intelectual, de muitos estudos. Antes de ser padre, ele pensava em ser químico. Só depois que decidiu ser padre e jesuíta. Foi por muitos anos professor, reitor de universidade, o que mostra uma capacidade de organização. Em primeiro lugar, ele mostra que para chegar ao cargo é necessário estudar", disse Dom Murilo.
O nome do escolhido pelos 115 cardeais foi anunciado pelo mais velho dos cardeais-diáconos, o francês Jean-Louis Tauran. O argentino não aparecia nas últimas listas de favoritos, que incluíam o brasileiro Dom Odilo Scherer e o italiano Angelo Scola.
A escolha do novo Papa de ser chamado de Francisco, para o arcebispo, também é simbólica. "É um homem de profunda espiritualidade, foi mestre de noviços e cuidou de retiros espirituais. Com isso, demostra que a reconstrução do mundo parte do coração das pessoas. Ele estabeleceu um programa, porque Francisco, no início de sua missão, recebeu uma ordem de Cristo: 'Vai e reconstrói a minha igreja'. Penso que ele está assumindo este compromisso de reconstruir a igreja a partir da conversão dos corações", disse.
Na avaliação de Dom Murilo, a decisão é considerada histórica. "É o primeiro jesuíta, primeiro latino americano, primeiro não europeu, quer dizer, realmente é uma escolha histórica e surpreendente, demonstrando que o Espírito Santo nos supreende sempre com as suas maravilhas, mas também que os cardeais não se deixaram levar pelo movimento da mídia", afirmou.
O religioso criticou o que chamou de "pressão da opinião pública". "Parecia que quem ia eleger o papa seria a pressão da opinião pública. Pressão que, muitas vezes, é baseada em argumentos que não são da igreja, argumentos que não são de fé. Penso que se esse foi o escolhido é porque é o papa que precisamos no mundo de hoje.
Em sua primeira bênção, para uma Praça de São Pedro lotada de fiéis apesar da chuva, o argentino afirmou que "parece que seus colegas cardeais foram buscar o Papa no fim do mundo", em uma referência à sua Argentina natal.Anúncio
A fumaça branca apareceu por volta das 19h08 locais (15h08 de Brasília), e foi recebida com festa pela multidão que tomava a Praça de São Pedro. Os sinos da Basílica de São Pedro tocaram.
Em tom sério, ele pediu aos cerca de 1,2 bilhão de católicos do mundo para "empreender um caminho de fraternidade, de amor" e de "evangelização". Ele também agradeceu ao seu predecessor, o agora Papa Emérito Bento XVI, em um gesto sem precedentes na Igreja moderna: um Papa agradecendo a um sucessor vivo.
"Rezem por mim, e nos veremos em breve", afirmou, acrescentando que, nesta quinta-feira, pretende rezar para Nossa Senhora. "Boa noite a todos e bom descanso", finalizou, na varanda da Basílica de São Pedro, sob aplausos da multidão.

Leia frases do novo Papa Francisco



Aos 76 anos e nascido em Buenos Aires, ele é o 1º Papa latino-americano. 
Bergoglio virou sacerdote quase uma década após perder um dos pulmões.


O argentino Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, agora Papa Francisco, foi anunciado nesta quarta-feira (13) sucessor de Bento XVI à frente da Igreja Católica Apostólica Romana, após o conclave que reuniu 115 cardeais no Vaticano. Ele é o primeiro pontífice latino-americano, o primeiro jesuíta e o primeiro a usar o nome Francisco (confira o perfil do novo Papa).
Leia algumas frases do Papa Francisco:
"Não sejamos ingênuos, não se trata de uma simples luta política. É uma pretensão destrutiva ao plano de Deus. Não se trata de um mero projeto legislativo, é apenas o sinal de uma mentira que pretende confundir e enganar aos filhos de Deus".
Carta de repúdio a projeto de casamento gay enviada aos monastérios de Buenos Aires.
"O aborto nunca é uma solução. Ao falar de uma mãe grávida, falamos de duas vidas, e ambas devem ser preservadas e respeitadas, pois a vida é de um valor absoluto".
Documento entregue a Conferência Episcopal Argentina.
"Pouco a pouco nos acostumamos a ouvir e a ver, através dos meios de comunicação, a crônica negra da sociedade contemporânea [...] O império do dinheiro, com seus efeitos demoníacos como as drogas, a corrupção, o tráfico de pessoas (incluindo de crianças), junto com a miséria material e moral são frequentes".
Discurso durante o período da Quaresma.
"A escravidão não está abolida e, nesta cidade [Buenos Aires], a escravidão está na ordem do dia de diversas formas. Nesta cidade se emprega trabalhadores clandestinos [...] A destruição do trabalho digno, as emigrações dolorosas e a falta de um futuro também se unem a esta sinfonia".
Discurso do Dia da Luta Contra o Tráfico de Pessoas.
"A dívida social é uma acumulação de privações e carências em distintas dimensões. É uma violação de direitose  aponta diretamente contra a dignidade humana. A dívida social no país [Argentina] é imoral, injusta e ilegítima".
Em discurso à TV aberta, em 2009.
"Nós vivemos na parte do mundo mais desigual. A distribuição desigual de bens continua, criando uma situação de pecado social que clama ao céu e limita as possibilidades de uma vida mais plena para muitos de nossos irmãos".
Discurso na reunião de Bispos Latino Americanos, em 2007.
"Temos que evitar a doença espiritual de uma igreja auto-referencial. Se a igreja permanece fechada em si mesma, ela fica velha. Entre uma igreja que sofre acidentes na rua e uma igreja que está doente porque é auto-referencial, não tenho dúvidas sobre preferir a primeira [opção]".
Durante conversa recente, pré-conclave.

sábado, 9 de março de 2013

Sé Vacante (Oremos)


 Vamos Orar também o VENI CREATOR e uma AVE MARIA todos os dias!

A oração pelo Conclave – Veni Creator Spiritus
“Não é tempo de temor nem de especulação, é tempo de oração”, foram essas as palavras do fundador da Canção Nova, monsenhor Jonas Abib, ao definir este tempo em que a Igreja vive a Sé Vacante, na expectativa do Conclave, o qual deverá acontecer nos próximos dias.
Seguindo a orientação do nosso fundador, colocamo-nos em oração por toda a Igreja Católica durante esse importante período do Conclave, no qual os cardeais, reunidos em oração, escolherão o novo Sucessor de Pedro.
Oração pelo Conclave
Convidamos você a rezar conosco a oração do Veni Creator Spiritus (Vinde, Espírito Criador).Supliquemos, desta forma, a assistência do Espírito Santo sobre o Conclave:
Vinde Espírito Criador, a nossa alma visitai
e enchei os corações com vossos dons celestiais.
Vós sois chamado o Intercessor de Deus excelso dom sem par,
a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar.
Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai,
por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai.
A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor,
nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor.
Nosso inimigo repeli, e concedei-nos a vossa paz,
se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás.
Ao Pai e ao Filho Salvador, por vós possamos conhecer
que procedeis do Seu amor, fazei-nos sempre firmes crer.
Amém!
Comunidade Canção Nova

AS IDÉIAS CENTRAIS DO CONCÍLIO VATICANO II (Reforma Litúrgica)





ENCONTRO DO PAPA BENTO XVI
COM O CLERO DE ROMA
Sala Paulo VI
14 de Fevereiro de 2013


Eminência,
Amados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado!

Considero um dom particular da Providência que, antes de deixar o ministério petrino, tenha ainda podido ver o meu clero, o clero de Roma. É sempre uma grande alegria ver como a Igreja vive, como, em Roma, a Igreja está viva; há pastores que, no espírito do Pastor Supremo, guiam o rebanho do Senhor. Realmente é um clero católico, universal, e isto corresponde à essência da Igreja de Roma: ter nela a universalidade, a catolicidade de todos os povos, de todas as raças, de todas as culturas. Ao mesmo tempo, sinto-me muito grato ao Cardeal Vigário, que ajuda a despertar, a encontrar as vocações também em Roma, porque se Roma deve ser, por um lado, a cidade da universalidade, por outro, há-de ser uma cidade com a sua própria fé forte e robusta, da qual nascem também vocações. E estou convencido de que, com a ajuda do Senhor, podemos encontrar as vocações que Ele próprio nos dá, guiá-las, ajudá-las a amadurecer, e assim servir para o trabalho na vinha do Senhor.
Hoje professastes o Credo diante do túmulo de São Pedro: no Ano da fé, parece-me muito oportuno, talvez mesmo necessário, este acto do clero de Roma se reunir no túmulo do Apóstolo a quem o Senhor disse: «A ti confio a minha Igreja. Sobre ti edifico a minha Igreja» (cf. Mt 16, 18-19). Diante do Senhor, juntamente com Pedro, confessastes: «Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo» (cf. Mt 16, 15-16). É assim que a Igreja cresce: juntamente com Pedro, confessando Cristo, seguindo Cristo. E façamo-lo sempre. Eu estou muito agradecido pela vossa oração, que pude sentir – como disse quarta-feira – quase fisicamente. Embora agora me retire, na oração continuo sempre unido a todos vós e tenho a certeza de que também vós estareis unidos a mim, apesar de permanecer oculto para o mundo.
Devido às condições da minha idade, não pude preparar, para hoje, um grande e verdadeiro discurso, como alguém poderia esperar; eu pensava mais numa breve conversa sobre o Concílio Vaticano II, tal como eu o vi. Começo por uma curiosidade: em 1959, tinha sido nomeado professor da Universidade de Bonn, onde fazem seus estudos os alunos, os seminaristas da diocese de Colónia e de outras dioceses vizinhas. Foi assim que entrei em contacto com o Cardeal de Colónia: o Cardeal Frings. O Cardeal Siri, de Génova, – no ano 1961, acho eu – organizou uma série de conferências sobre o Concílio feitas por vários Cardeais europeus, e convidara também o Arcebispo de Colónia para realizar uma das conferências que tinha por título: O Concílio e o mundo do pensamento moderno.
O Cardeal convidou-me – o mais novo dos professores – para lhe redigir um projecto; ele gostou do projecto, e propôs ao povo de Génova o texto como eu o escrevera. Pouco tempo depois, o Papa João convida-o para ir ter com ele, e o Cardeal estava cheio de medo por ter talvez dito algo de não correcto, algo de falso, e consequentemente ser chamado para uma admoestação, talvez mesmo para lhe tirar o cardinalato. Na verdade, quando o seu secretário o viu vestido para a audiência, o Cardeal disse: «Talvez use agora pela última vez estas vestes». Depois entrou; o Papa João vem ao seu encontro, abraça-o e diz: «Obrigado, Eminência! O senhor disse as coisas que queria dizer eu, mas não tinha encontrado as palavras». Assim, o Cardeal sabia que estava no caminho certo, e convidou-me para ir com ele ao Concílio, inicialmente como seu perito pessoal; depois, no decurso do primeiro período – em Novembro de 1962, creio eu – fui nomeado também perito oficial do Concílio.
Então partimos para o Concílio não apenas com alegria, mas também com entusiasmo. Havia uma expectativa incrível. Esperávamos que tudo se renovasse, que viesse verdadeiramente um novo Pentecostes, uma nova era da Igreja, pois esta apresentava-se ainda bastante robusta naquele tempo, a prática dominical ainda boa, as vocações ao sacerdócio e à vida religiosa, apesar de já um pouco reduzidas no número, ainda eram suficientes. Contudo, tinha-se a sensação de que a Igreja não caminhava, ia diminuindo, parecia mais uma realidade do passado que a portadora do futuro. E, naquele momento, esperávamos que esta situação se alterasse, mudasse; que a Igreja fosse de novo força do futuro e força do presente. E sabíamos que a relação entre a Igreja e o período moderno tinha sido, desde o princípio, um pouco contrastante, a começar do erro da Igreja no caso de Galileu Galilei; pensava-se em corrigir este início errado e encontrar de novo a união entre a Igreja e as forças melhores do mundo, para abrir o futuro da humanidade, para abrir o verdadeiro progresso. Por isso, estávamos cheios de esperança, de entusiasmo e também de vontade de contribuir com a nossa parte para isso. Lembro-me que o Sínodo Romano era considerado um modelo negativo. Disse-se – não sei se era verdade – que tivessem lido os textos preparados na Basílica de São João e que os membros do Sínodo tivessem aclamado, aprovado aplaudindo, e assim se teria realizado o Sínodo. Os Bispos disseram: Não, não façamos assim! Somos Bispos, nós mesmos somos o sujeito do Sínodo; não queremos apenas aprovar aquilo que foi feito, mas queremos ser nós o sujeito, os condutores do Concílio. O próprio Cardeal Frings, que era conhecido pela sua fidelidade absoluta, quase escrupulosa, ao Santo Padre, neste caso disse: Encontramo-nos aqui com outra função. O Papa convocou-nos como Padres, para sermos Concílio ecuménico, um sujeito que renove a Igreja. Assim queremos assumir esta nossa função.
O primeiro momento, em que se manifestou esta atitude, foi logo no primeiro dia. Estavam previstas, para este primeiro dia, as eleições das Comissões e tinham sido preparadas, de modo – procurou-se – imparcial, as listas, os nomes; seriam estas listas que se deviam votar. Mas os Padres disseram imediatamente: Não! Não queremos simplesmente votar listas já feitas. Somos nós o sujeito. Então teve-se de adiar as eleições, porque os próprios Padres queriam conhecer-se um pouco, queriam eles próprios preparar listas. E assim se fez. O Cardeal Liénart de Lille e o Cardeal Frings de Colónia disseram publicamente: Assim não pode ser. Queremos fazer as nossas listas e eleger os nossos candidatos. Não era um acto revolucionário, mas um acto de consciência, de responsabilidade por parte dos Padres conciliares.
Começava assim uma intensa actividade para se conhecerem, horizontalmente, uns aos outros; e isso não foi deixado ao acaso. No «Colégio dell’Anima», onde eu morava, tivemos muitas visitas: sendo o Cardeal muito conhecido, vimos lá Cardeais de todo o mundo. Recordo-me bem da figura alta e magra de Mons. Etchegaray, que era Secretário da Conferência Episcopal Francesa, dos encontros com Cardeais, etc. E isto havia de ser típico durante todo o Concílio: pequenos encontros transversais. Foi assim que conheci grandes figuras como Padre de Lubac, Daniélou, Congar, etc. Conhecemos vários Bispos; recordo-me particularmente do Bispo Elchinger de Estrasburgo, etc. E esta era já uma experiência da universalidade da Igreja e da realidade concreta da Igreja, que não recebe simplesmente imperativos de cima, mas conjuntamente cresce e caminha, sempre sob a guia – naturalmente – do  Sucessor de Pedro.
Como disse, todos vinham com grandes expectativas; nunca se realizara um Concílio com estas dimensões, mas nem todos sabiam como fazer. Os mais preparados – digamos, aqueles com intenções mais definidas – eram o episcopado francês, alemão, belga, holandês, a chamada «aliança do Reno». E, na primeira parte do Concílio, eram eles que indicavam a estrada; depois, rapidamente se alargou a actividade e todos progressivamente participaram na criatividade do Concílio. Os franceses e os alemães tinham vários interesses em comum, embora com matizes bastante diferentes. O intento primeiro, inicial, simples – simples, aparentemente – era a reforma da liturgia, iniciada já com Pio XII, que tinha reformado a Semana Santa; o segundo, a eclesiologia; o terceiro, a Palavra de Deus, a Revelação; e, finalmente, também o ecumenismo. Os franceses, muito mais do que os alemães, tinham ainda como problema para tratar a situação das relações entre a Igreja e o mundo.
Começamos pelo primeiro. Depois da Primeira Guerra Mundial, crescera, precisamente na Europa central e ocidental, o movimento litúrgico, uma redescoberta da riqueza e profundidade da liturgia, que até então estava quase fechada no Missal Romano do sacerdote, enquanto o povo rezava pelos seus livros de oração, feitos de acordo com o coração da gente, de modo que se procurava traduzir os conteúdos altos, a linguagem elevada da liturgia clássica em palavras mais sentimentais, mais próximas do coração das pessoas. Tratava-se, porém, quase de duas liturgias paralelas: o sacerdote com os ajudantes, que celebrava a Missa segundo o Missal, e os leigos que rezavam, durante a Missa, com os seus livros de oração, sabendo substancialmente o que se realizava no altar. Mas agora fora redescoberta precisamente a beleza, a profundidade, a riqueza histórica, humana, espiritual do Missal e a necessidade que não houvesse só um representante do povo, um pequeno ajudante, a dizer: «Et cum spiritu tuo», etc, mas que fosse realmente um diálogo entre o sacerdote e o povo, que realmente a liturgia do altar e a liturgia do povo fosse uma única liturgia, uma participação activa, que as riquezas chegassem ao povo; e assim foi redescoberta, renovada a liturgia.
Agora olhando retrospectivamente, eu acho que foi muito bom ter começado pela liturgia, aparecendo assim o primado de Deus, o primado da adoração. Deste modo a frase «operi Dei nihil praeponatur» da Regra de São Bento (cf. 43, 3) aparece como a regra suprema do Concílio. Alguém criticara o Concílio por ter falado sobre muitas coisas, mas não sobre Deus. Ora ele falou sobre Deus! E o seu primeiro e substancial acto foi falar sobre Deus e abrir todas as pessoas, todo o povo santo, à adoração de Deus, na celebração comunitária da liturgia do Corpo e Sangue de Cristo. Neste sentido, para além de factores práticos que desaconselhavam começar imediatamente com temas controversos, é realmente – podemos dizer – um acto providencial que, nos inícios do Concílio, esteja a liturgia, esteja Deus, esteja a adoração. Agora não quero entrar nos detalhes da discussão, mas vale a pena voltar sempre, mais além das aplicações práticas, ao próprio Concílio, à sua profundidade e às suas ideias essenciais.
Eu diria que havia diversas: sobretudo o Mistério Pascal como centro do ser cristão e, consequentemente, da vida cristã, do ano, do tempo cristão, expresso no tempo pascal e no domingo que é sempre o dia da Ressurreição. Sempre de novo começamos o nosso tempo com a Ressurreição, o encontro com o Ressuscitado, e, do encontro com o Ressuscitado, saímos para o mundo. Neste sentido, é uma pena que hoje o domingo se tenha transformado em fim de semana, quando na verdade é o primeiro dia, é o início. Interiormente devemos ter isto presente: é o início, o início da Criação, é o início da recriação na Igreja, encontro com o Criador e com Cristo Ressuscitado. Também este duplo conteúdo do domingo é importante: é o primeiro dia, isto é, a festa da criação, o nosso fundamento continua a ser a Criação, acreditamos em Deus Criador; e encontro com o Ressuscitado, que renova a Criação; o seu verdadeiro objectivo é criar um mundo que seja resposta ao amor de Deus.
Depois havia princípios: a inteligibilidade, em vez de ficar fechados numa língua desconhecida, não falada, e também a participação activa. Infelizmente, estes princípios foram também mal compreendidos. Inteligibilidade não quer dizer banalidade, porque os grandes textos da liturgia – ainda que proferidos, graças a Deus, na língua materna – não são facilmente inteligíveis, precisam de uma formação permanente do cristão para que ele cresça e entre cada vez mais em profundidade no mistério, e assim possa compreender. E o mesmo se diga da Palavra de Deus: se se pensa na leitura diária do Antigo Testamento, e mesmo na leitura das Cartas Paulinas, dos Evangelhos, quem pode afirmar que a compreende imediatamente só porque a leitura está na sua própria língua? Só uma formação permanente do coração e da mente pode realmente criar inteligibilidade e uma participação que é mais do que uma actividade exterior, que é uma entrada da pessoa, do meu ser na comunhão da Igreja e, deste modo, na comunhão com Cristo.
Segundo tema: a Igreja. Sabemos que o Concílio Vaticano I fora interrompido por causa da guerra franco-alemã e assim passou à história com a sua unilateralidade, ou seja, como um fragmento, já que a doutrina sobre o primado – que foi definida, graças a Deus, naquele momento histórico da Igreja, e se revelou muito necessária nos tempos sucessivos – era apenas um elemento numa eclesiologia prevista e preparada mais vasta. Assim o que ficou foi o fragmento. E podia-se dizer que, se o fragmento permanece assim como é, tendemos para uma unilateralidade: a Igreja seria apenas o primado. Por isso, desde o início, havia esta intenção de completar a eclesiologia do Concílio Vaticano I, em data a encontrar, para que se tivesse uma eclesiologia completa. Também neste tema pareciam óptimas as condições, visto que, depois da Primeira Guerra Mundial, renascera o sentido da Igreja de um modo novo. Disse Romano Guardini: «Nas almas, começa a despertar a Igreja», e um bispo protestante falava do «século da Igreja». Sobretudo voltava-se a encontrar o conceito – que estava previsto também pelo Vaticano I – do Corpo Místico de Cristo. Queria-se afirmar e dar a entender que a Igreja não é tanto uma organização, algo de estrutural, jurídico, institucional – embora também o seja – como sobretudo é um organismo, uma realidade vital, que entra na minha alma, de tal modo que eu próprio, precisamente com a minha alma crente, sou elemento constitutivo da Igreja como tal. Neste sentido, escrevera Pio XII a Encíclica Mystici Corporis Christi, ou seja, como um passo para completar o Concílio Vaticano I.
Eu diria que a discussão teológica dos anos 30 e 40, e mesmo nos anos 20, se desenrolara completamente sob este signo da expressão «Mystici Corporis». Foi uma descoberta que criou tanta alegria naquele tempo, e foi também neste contexto que cresceu a fórmula: Nós somos a Igreja, a Igreja não é uma estrutura; nós, os próprios cristãos juntos, todos nós somos o Corpo vivo da Igreja. Naturalmente isto é válido no sentido que o nós, o verdadeiro «nós» dos crentes, juntamente com o «Eu» de Cristo é a Igreja; cada um de nós, não «um nós», um grupo que se declara Igreja. Isso não! Este «nós somos Igreja» exige precisamente a minha inserção no grande «nós» dos crentes de todos os tempos e lugares. Assim temos a primeira ideia: completar a eclesiologia de modo teológico, mas continuando também de modo estrutural, ou seja, ao lado da sucessão de Pedro, da sua função única, definir melhor também a função dos Bispos, do Corpo Episcopal. E, para fazer isso, encontrou-se a palavra «colegialidade», muito discutida, com discussões acesas, diria mesmo, um pouco exageradas. Mas era a palavra – talvez houvesse ainda outra, mas esta servia – para exprimir que os Bispos, juntos, são a continuação dos Doze, do Corpo dos Apóstolos. Dissemos: só um Bispo, o de Roma, é sucessor de um determinado apóstolo, de Pedro. Todos os outros tornam-se sucessores dos Apóstolos, entrando no Corpo que continua o Corpo dos Apóstolos. Precisamente assim o Corpo dos Bispos, o colégio, é a continuação do Corpo dos Doze, e deste modo se vê a sua necessidade, a sua função, os seus direitos e deveres. A muitos aparecia como uma luta pelo poder, e talvez algum tenha pensado também ao seu poder, mas substancialmente não se tratava de poder, mas da complementaridade dos factores e do completamento do Corpo da Igreja com os Bispos, sucessores dos Apóstolos, como pedra angular; e cada um deles, unido a este grande Corpo, é pedra angular da Igreja.
Estes eram, digamos, os dois elementos fundamentais; entretanto, à procura de uma visão teológica completa da eclesiologia, já depois dos anos 40, nos anos 50, surgira alguma crítica ao conceito de Corpo de Cristo: «místico» seria demasiado espiritual, demasiado exclusivo; entrara então em jogo o conceito de «Povo de Deus». E, justamente, o Concílio aceitou este elemento, que nos Padres aparece considerado como expressão da continuidade entre Antigo e Novo Testamento. Nos livros do Novo Testamento, a expressão «Laos tou Theou», que corresponde a textos do Antigo Testamento, significa – parece-me, apenas com duas excepções – o antigo Povo de Deus, os judeus que são, entre os povos («goim») do mundo, «o» Povo de Deus. E os outros… nós, pagãos, não somos por natureza o Povo de Deus, tornamo-nos filhos de Abraão e, consequentemente, Povo de Deus quando entramos em comunhão com Cristo, o único que é descendente de Abraão. E, entrando em comunhão com Ele, fazendo-se um só com Ele, também nós somos Povo de Deus. Por outras palavras, o conceito «Povo de Deus» implica a continuidade dos Testamentos, a continuidade da história de Deus com o mundo, com os homens, mas implica também o elemento cristológico. Só através da cristologia é que nos tornamos Povo de Deus, e assim se combinam os dois conceitos. E o Concílio decidiu criar uma construção trinitária da eclesiologia: Povo de Deus Pai, Corpo de Cristo, Templo do Espírito Santo.
Mas só depois do Concílio é que foi posto em evidência um elemento que se encontra um pouco escondido no próprio Concílio: a ligação entre Povo de Deus e Corpo de Cristo é precisamente a comunhão com Cristo na união eucarística; aqui tornamo-nos Corpo de Cristo. Podemos dizer que a relação entre Povo de Deus e Corpo de Cristo cria uma nova realidade: a comunhão. Poder-se-ia dizer que, depois do Concílio, foi descoberto como, na realidade, o próprio Concílio levara a encontrar este conceito: a comunhão como conceito central. Eu diria que, no Concílio, filologicamente tal conceito não estava ainda totalmente amadurecido, mas é fruto do Concílio que o conceito de comunidade se tenha tornado progressivamente a expressão da essência da Igreja, comunhão nas diferentes dimensões: comunhão com o Deus Trinitário – sendo Ele próprio comunhão entre Pai, Filho e Espírito Santo –, comunhão sacramental, comunhão concreta no episcopado e na vida da Igreja.
Ainda mais conflituoso era o problema da Revelação. Tratava-se da relação entre Escritura e Tradição, e aqui apareciam sobretudo os exegetas interessados numa maior liberdade; sentiam-se um pouco – digamos – em situação de inferioridade relativamente aos protestantes, que faziam as grandes descobertas, enquanto os católicos se viam um pouco como «deficientes» pela necessidade de se submeter ao Magistério. Por conseguinte, aqui estava em jogo uma luta também muito concreta: Que liberdade têm os exegetas? Como se pode ler bem a Escritura? Que quer dizer Tradição? Era uma batalha pluridimensional que não posso mostrar agora; o importante é que a Escritura é de certeza a Palavra de Deus, e a Igreja está sob a Escritura, obedece à Palavra de Deus, não está acima da Escritura. E, no entanto, a Escritura só é Escritura porque existe a Igreja viva, o seu sujeito vivo; sem o sujeito vivo da Igreja, a Bíblia é apenas um livro que abre, se abre para diferentes interpretações sem dar uma derradeira clareza.
Como disse, aqui a batalha era difícil, tendo sido decisiva uma intervenção do Papa Paulo VI. Esta intervenção mostra toda a delicadeza de um pai, a sua responsabilidade pelo andamento do Concílio, mas também o seu grande respeito pelo mesmo. Tinha nascido a ideia de que a Bíblia é completa, tudo se encontra nela; por conseguinte, não há necessidade da Tradição, e o Magistério não tem nada a dizer. Então o Papa enviou ao Concílio – parece-me – 14 formas de uma frase que devia ser inserida no texto sobre a Revelação e dava-nos, dava aos Padres a liberdade de escolher uma das 14 formas, mas disse: uma deve ser escolhida, para tornar completo o texto. Recordo-me, mais ou menos, da forma «non omnis certitudo de veritatibus fidei potest sumi ex Sacra Scriptura», isto é, a certeza da Igreja sobre a fé não nasce apenas de um livro isolado, mas tem necessidade do sujeito que é a Igreja iluminada, guiada pelo Espírito Santo. Só assim é que a Escritura fala e tem toda a sua autoridade. Esta frase que escolhemos na Comissão Doutrinal, uma das 14 formas, é decisiva – diria – para mostrar a indispensabilidade, a necessidade da Igreja e deste modo compreender o que quer dizer Tradição, o Corpo vivo no qual vive, desde o início, esta Palavra e do qual recebe a sua luz, no qual ela nasceu. O próprio Cânon é um facto eclesial: que estes escritos sejam a Escritura resulta da iluminação da Igreja, que encontrou em si este Cânon da Escritura; encontrou, não criou. E sempre e só nesta comunhão da Igreja viva é que se pode realmente também compreender, ler a Escritura como Palavra de Deus, como Palavra que nos guia na vida e na morte.
Como disse, esta era uma batalha bastante difícil, mas graças ao Papa e graças – digamo-lo – à luz do Espírito Santo, que estava presente no Concílio, criou-se um documento que é um dos mais belos e inovadores de todo o Concílio e que deve ser estudado ainda muito mais. É que também hoje a exegese tende a ler a Escritura fora da Igreja, fora da fé, apenas no chamado espírito do método histórico-crítico – um método importante, mas não até ao ponto de poder dar soluções como última certeza; só se acreditarmos que estas não são palavras humanas, mas palavras de Deus, e só se se vive no sujeito vivo ao qual falou e fala Deus, é que podemos interpretar bem a Sagrada Escritura. E aqui – como disse no prefácio do meu livro sobre Jesus (cf. I volume) – há ainda muito a fazer para se chegar a uma leitura verdadeiramente no espírito do Concílio. Aqui a aplicação do Concílio ainda não é completa, está ainda por fazer.
E, finalmente, o ecumenismo. Não quero entrar agora nestes problemas, contudo era óbvio – sobretudo depois das «paixões» sofridas pelos cristãos no tempo do nazismo – que os cristãos poderiam encontrar a unidade, pelo menos procurar a unidade, mas era claro também que só Deus pode dar a unidade. E estamos ainda a caminho… E, com estes temas, a «aliança do Reno» tinha – por assim dizer – feito o seu trabalho.
O horizonte da segunda parte do Concílio é muito mais vasto. Apresentava-se, com grande urgência, o tema: O mundo de hoje, a época moderna, e a Igreja; e, relacionado com o mesmo, os temas da responsabilidade pela construção deste mundo, da sociedade, a responsabilidade pelo futuro deste mundo e esperança escatológica, a responsabilidade ética do cristão, onde poderá encontrar os seus guias; e, depois, a liberdade religiosa, o progresso e a relação com as outras religiões. Nesta altura, participam realmente na discussão todas as latitudes presentes no Concílio; não só a América, os Estados Unidos…, com um grande interesse pela liberdade religiosa. No terceiro período, estes disseram ao Papa: Não podemos voltar para casa sem levar, na nossa bagagem, uma declaração sobre a liberdade religiosa votada pelo Concílio. Todavia o Papa, com firmeza e decisão, teve a paciência de levar o texto para o quarto período, a fim de encontrar uma maturação e um consenso suficientemente completos entre os Padres do Concílio. Como dizia, jogaram um papel forte no Concílio não só os norte-americanos, mas também a América Latina, bem conhecedora da miséria do povo, de um continente católico, e da responsabilidade da fé pela situação daquela gente. E de igual modo a África, a Ásia, que viram a necessidade do diálogo inter-religioso; despontaram problemas que nós, alemães, – é justo que o diga – no início não tínhamos visto. Não posso agora descrever tudo isto. O grande documento «Gaudium et spes» analisou muito bem os problemas da escatologia cristã e progresso do mundo, da responsabilidade pela sociedade de amanhã e responsabilidade do cristão face à eternidade, tendo assim também renovado a ética cristã, os fundamentos. Mas inesperadamente – digamos – cresceu, ao lado deste grande documento, outro documento que dava resposta, de forma mais sintética e concreta, aos desafios do tempo: a «Nostra aetate». Desde o início, estavam presentes os nossos amigos judeus, que nos disseram a nós, alemães, sobretudo, mas não só a nós, que depois dos tristes acontecimentos deste século nazista, da década nazista, a Igreja Católica deve dizer uma palavra sobre o Antigo Testamento, sobre o povo judeu. Diziam: embora seja claro que a Igreja não é responsável pelo Shoah, todavia uma grande parte daqueles que cometeram tais crimes eram cristãos; devemos aprofundar e renovar a consciência cristã, mesmo sabendo bem que os verdadeiros crentes sempre resistiram contra essas coisas. Tornava-se assim claro que a relação com o mundo do antigo Povo de Deus devia ser objecto de reflexão. É compreensível também que os países árabes – os Bispos dos países árabes – não tivessem ficado felizes com esta possibilidade: temiam em certa medida uma glorificação do Estado de Israel, que naturalmente não queriam. E disseram: Uma indicação verdadeiramente teológica sobre o povo judeu é boa, é necessária, mas, se falardes disso, falai também do Islão; só assim se restabelecerá o equilíbrio; também o Islão é um grande desafio, e a Igreja deve esclarecer igualmente a sua relação com o Islão. Eis uma realidade que então nós quase não compreendemos: um pouco, sim, mas não muito. Hoje sabemos como era necessário!
E quando começámos a trabalhar também sobre o Islão, disseram-nos: Mas há também outras religiões no mundo: na Ásia inteira! Pensai no Budismo, no Hinduísmo.... E assim, em vez de uma Declaração pensada inicialmente apenas sobre o antigo Povo de Deus, criou-se um texto sobre o diálogo inter-religioso, antecipando aquilo que só trinta anos depois é que se manifestou em toda a sua intensidade e importância. Não posso entrar agora neste tema, mas se alguém ler o texto, verá que é muito denso e preparado verdadeiramente por pessoas que conheciam as realidades, e indica brevemente, com poucas palavras, o essencial. Nele se vê também o fundamento para um diálogo, na diferença, na diversidade, na fé sobre a unicidade de Cristo, que é um, não sendo possível, para um crente, pensar que as religiões todas não passem de variações de um tema. Não! Há uma realidade do Deus vivo que falou, e é um Deus, é um Deus encarnado, e portanto uma Palavra de Deus, que é realmente Palavra de Deus. Mas há também a experiência religiosa, com uma certa luz humana da criação, e por conseguinte é necessário e possível entrar em diálogo e, assim, abrir-se um ao outro e abrirem-se todos à paz de Deus, de todos os seus filhos, de toda a sua família.
Portanto, estes dois documentos – A liberdade religiosa e a «Nostra aetate» – juntos com a «Gaudium et spes» são uma trilogia muito importante, cuja importância se foi manifestando apenas com o passar das décadas, e ainda estamos a trabalhar para compreender melhor este conjunto formado pela unicidade da Revelação de Deus, a unicidade do único Deus encarnado em Cristo, e a multiplicidade das religiões, com as quais procuramos a paz, e também o coração aberto pela luz do Espírito Santo, que ilumina e guia para Cristo.
Agora quero acrescentar ainda um terceiro ponto: havia o Concílio dos Padres – o verdadeiro Concílio – mas havia também o Concílio dos meios de comunicação, que era quase um Concílio aparte. E o mundo captou o Concílio através deles, através dos mass-media. Portanto o Concílio, que chegou de forma imediata e eficiente ao povo, foi o dos meios de comunicação, não o dos Padres. E enquanto o Concílio dos Padres se realizava no âmbito da fé, era um Concílio da fé que faz apelo ao intellectus, que procura compreender-se e procura entender os sinais de Deus naquele momento, que procura responder ao desafio de Deus naquele momento e encontrar, na Palavra de Deus, a palavra para o presente e o futuro, enquanto todo o Concílio – como disse – se movia no âmbito da fé, como fides quaerens intellectum, o Concílio dos jornalistas, naturalmente, não se realizou no âmbito da fé, mas dentro das categorias dos meios de comunicação actuais, isto é, fora da fé, com uma hermenêutica diferente. Era uma hermenêuticos política: para os mass-media, o Concílio era uma luta política, uma luta de poder entre diversas correntes da Igreja. Era óbvio que os meios de comunicação tomariam posição por aquela parte que se lhes apresentava mais condizente com o seu mundo. Havia aqueles que pretendiam a descentralização da Igreja, o poder para os Bispos e depois, valendo-se da expressão «Povo de Deus», o poder do povo, dos leigos. Existia esta tripla questão: o poder do Papa, em seguida transferido para o poder dos bispos e para o poder de todos, a soberania popular. Para eles, naturalmente, esta era a parte que devia ser aprovada, promulgada, apoiada. E o mesmo se passava com a liturgia: não interessava a liturgia como acto da fé, mas como algo onde se fazem coisas compreensíveis, algo de actividade da comunidade, algo profano. E sabemos que havia uma tendência – invocava mesmo um fundamento na história – para se dizer: A sacralidade é uma coisa pagã, eventualmente do próprio Antigo Testamento. No Novo, conta apenas que Cristo morreu fora: fora das portas, isto é, no mundo profano. Portanto há que acabar com a sacralidade, o próprio culto deve ser profano: o culto não é culto, mas um acto do todo, da participação comum, e deste modo a participação vista como actividade. Estas traduções, banalizações da ideia do Concílio, foram virulentas na prática da aplicação da reforma litúrgica; nasceram numa visão do Concílio fora da sua chave própria de interpretação, da fé. E o mesmo se passou também com a questão da Escritura: a Escritura é um livro, histórico, que deve ser tratado historicamente e nada mais, etc.
Sabemos como este Concílio dos meios de comunicação era acessível a todos. Por isso, acabou por ser o predominante, o mais eficiente, tendo criado tantas calamidades, tantos problemas, realmente tanta miséria: seminários fechados, conventos fechados, liturgia banalizada... enquanto o verdadeiro Concílio teve dificuldade em se concretizar, em ser levado à realidade; o Concílio virtual era mais forte que o Concílio real. Mas a força do Concílio era real, estava presente e, pouco a pouco, vai-se realizando cada vez mais e torna-se a verdadeira força, que constitui também a verdadeira reforma, a verdadeira renovação da Igreja. Parece-me que, passados cinquenta anos do Concílio, vemos como este Concílio virtual se desfaz em pedaços e desaparece, enquanto se afirma o verdadeiro Concílio com toda a sua força espiritual. E é nossa missão, precisamente nesteAno da Fé, começando deste Ano da Fé, trabalhar para que o verdadeiro Concílio, com a própria força do Espírito Santo, se torne realidade e seja realmente renovada a Igreja. Temos esperança de que o Senhor nos ajudará. Eu, retirado, com a minha oração estarei sempre convosco e, juntos, caminhemos com o Senhor, na certeza de que vence o Senhor! Obrigado!