quarta-feira, 13 de março de 2013

Arcebispo de Olinda e Recife se diz surpreso com escolha de novo Papa

Dom Fernando Saburido comentou decisão na tarde desta quarta.

Fato de Bergoglio ser jesuíta e não estar entre favoritos chamou atenção.

Surpreso. Foi assim que se sentiu dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife, quando soube da escolha do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio como novo Papa, após anúncio às 15h08 (horário de Brasília) desta quarta-feira (13), 19h08 no Vaticano, onde aconteceu o conclave. Bergoglio, de 76 anos, escolheu se chamar Papa Francisco I.
“Ele não estava entre os favoritos. É um jesuíta e dificilmente os jesuítas assumem esses cargos, não se tornam nem bispos, por causa do voto de pobreza. Tem a idade também, ele tem 76 anos, é uma idade muito parecida com a que Bento XVI tinha quando foi eleito, 78 anos. Por outro lado, é uma pessoa querida por todos, porque é extremamente simples e humilde, tanto que na primeira aparição pública, antes mesmo de abençoar os fieis, ele pediu que fizessem orações por ele, porque é uma carga muito pesada”, comentou o religioso pernambucano.
Ainda de acordo com dom Fernando Saburido, o novo Papa tem alguns desafios pela frente, diante dos escândalos envolvendo integrantes da Igreja Católica – como o cardeal escocês Keith O’Brien, que admitiu conduta sexual imprópria, pediu demissão de seu cargo e não participou do conclave – e também por causa do vazamento de documentos secretos no chamado escândalo VatiLeaks. “A mídia tem falado tanto dos problemas atuais, questões econômicas, que a Igreja está com problemas lá no banco do Vaticano. As questões éticas também... e problemas de organização da própria Igreja. Tudo isso são coisas que o Papa vai ter que ir fazendo devagarinho, juntamente com seu conselho. Uma vez eleito, ele vai ter que constituitr seus colaboradores mais próximos, e vai depender muito disso. A gente vai ter uma visão real do Papa Francisco I a partir de agora, quando ele começar a escolher aqueles que vão assessorá-lo de perto, como ele vai constiuir o grupo que vai formar as comissões que estarão mais próximas dele”, apontou dom Fernando Saburido.
O arcebispo de Olinda e Recife também ressaltou o fato de Francisco I ser o primeiro Papa vindo da América Latina. “Os brasileiros torciam para que fosse um brasileiro, mas já foi muita coisa para nós termos o primeiro Papa latino-americano escolhido. Foram muitos europeus, alguns africanos, então isso é muito significativo, considerando que é na América Latina que está a maior quantidade de fiéis católicos”, disse.
Perfil
O argentino Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, agora Papa Francisco I, nasceu em Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936. Arcebispo de Buenos Aires e primado da Argentina, ele é um homem tímido e de poucas palavras, mas com grande prestígio entre seus seguidores, que apreciam sua total disponibilidade e seu estilo de vida sem ostentação. É reconhecido por seus dotes intelectuais e considerado dialogante e moderado, amante do tango e do time de futebol San Lorenzo.
Antes de seguir carreira religiosa, Bergoglio formou-se engenheiro químico. Escolheu depois o sacerdócio, quase uma década após perder um pulmão por uma doença respiratória e de deixar seus estudos de química, ingressando em um seminário no bairro de Villa Devoto. Em março de 1958, entrou no noviciado da Companhia de Jesus, congregação religiosa dos jesuítas, fundada no século XVI.
Em 1963, Bergoglio estudou humanidades no Chile, retornando à Argentina no ano seguinte. Entre 1964 e 1965, foi professor de literatura e psicologia no Colégio Imaculada Conceição de Santa Fé. Em 1966, ensinou as mesmas matérias em um colégio de Buenos Aires.
Entre 1967 e 1970, Bergoglio estudou teologia, tendo sido ordenado sacerdote no dia 13 de dezembro de 1969.
Em menos de quatro anos chegou a liderar a congregação jesuíta local, um cargo que exerceu de 1973 a 1979.
Foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, entre 1980 e 1986, e, depois de completar sua tese de doutorado na Alemanha, serviu como confessor e diretor espiritual em Córdoba.
Em 1992, Bergoglio foi nomeado bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires. Em 1997, ele virou arcebispo titular de Buenos Aires. Atuou como presidente da Conferência Episcopal da Argentina de 2005 até 2011.
Foi criado cardeal pelo então Papa João Paulo II em 1998. Em 2001, João Paulo II o nomeou primaz da Argentina. Ele ocupou então a presidência da Conferência Episcopal durante dois períodos, até que deixou o posto porque os estatutos o impediam de continuar.
Bergoglio foi na Santa Sé membro da Congregação para o Culto Divino e a disciplina dos Sacramentos; da Congregação para o Clero; da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica; do Pontifício Conselho para a Família e a Pontifícia Comissão para a América Latina.
Filho de uma família de classe média com cinco filhos, de pai ferroviário e mãe dona de casa, o novo Papa é pouco inclinado a aceitar convites particulares e tem um "pensamento tático", de acordo com especialistas.
Polêmica na ditadura
A ascensão religiosa de Jorge Mario Bergoglio coincidiu com um dos períodos mais obscuros da Argentina: a ditadura militar que governou o país entre 1976 e 1982. Ele foi acusado de retirar proteção de sua ordem a dois jesuítas que foram sequestrados clandestinamente pelo governo militar por fazerem trabalho social em bairros de extrema pobreza. Ambos os padres sobreviveram a uma prisão de cinco meses.
O caso é relatado no livro "Silêncio", do jornalista Horacio Verbitsky, também presidente da entidade privada defensora dos direitos humanos CELS. A publicação leva em conta muitas manifestações de Orlando Yorio, um dos jesuítas sequestrados, antes de morrer por causas naturais em 2000.
"A história o condena: o mostra como alguém contrário a todas as experiências inovadoras da Igreja e, sobretudo, na época da ditadura, o mostra muito próximo do poder militar", disse há algum tempo o sociólogo Fortunato Mallimacci, ex-decano da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.
Os defensores de Bergoglio dizem que não há provas contra ele e que, pelo contrário, o novo Papa ajudou muitos a escapar das Forças Armadas durante os anos de chumbo no seu país.
Preocupação social
No Vaticano, longe de possíveis manchas dos tempos de ditadura, é esperado que o homem silencioso que agora é Papa conduza a estrutura da Igreja Católica com mão de ferro e com uma marcada preocupação social.
Políticos argentinos foram repetidamente alvo da retórica afiada do sacerdote, acusados por ele de não combater a pobreza e preocuparem-se apenas em seguir no poder. Em 2010, ele também enfrentou a presidente Cristina Kirchner quando o governo apoiou uma lei para permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
"Não vamos ser ingênuos: não se trata de uma simples luta política; é uma tentativa de destruição do plano de Deus", escreveu Bergoglio em carta, dias antes de o projeto ser aprovado pelo Congresso.
Conhecido por sua simplicidade, Bergoglio vivia sozinho, em um apartamento, no segundo andar do edifício da Cúria, ao lado da Catedral de Buenos Aires, no coração da cidade. A imprensa local lembra hoje que, da janela de seu apartamento, foi testemunha da violência na Praça de Maio durante a crise de dezembro de 2001.
Indignado, ligou para o ministro do Interior para lhe pedir que desse instruções para que os agentes diferenciassem entre ativistas e correntistas que reivindicavam seus direitos.
Em 2004, após a tragédia da boate Cromagnon, percorreu os hospitais da cidade para ajudar as famílias das vítimas .
Pouco amigo de aparições na imprensa, Bergoglio tentou manter um baixo perfil público, costuma usar transporte público e inclusive se confessa na Catedral. Ele foi dos poucos cardeais que, quando chegou a Roma para a eleição do novo papa, não usou veículos oficiais.
O novo papa é um amante dos autores clássicos, gosta de tango e não esconde sua paixão pelo futebol, especialmente pelo San Lorenzo de Almagro – tem uma camisa assinada pelo elenco
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O conclave elegeu nesta quarta-feira (13) o cardeal Jorge Mario Bergoglio como novo Papa, sucessor de Bento XVI à frente da Igreja Católica Apostólica Romana. O nome do escolhido pelos 115 cardeais foi anunciado pelo mais velho dos cardeais-diáconos, o francês Jean-Louis Tauran. Bergoglio escolheu se chamar Papa Francisco I.
A decisão surpreendeu, pois o argentino, citado inicialmente, não aparecia nas últimas listas de favoritos, que incluíam o brasileiro Dom Odilo Scherer e o italiano Angelo Scola.
A fumaça branca apareceu por volta das 19h08 locais (15h08 de Brasília), e foi recebida com festa pela multidão que tomava a Praça de São Pedro. Os sinos da Basílica de São Pedro tocaram.
Em sua primeira bênção, para uma Praça de São Pedro lotada de fiéis apesar da chuva, o argentino afirmou que "parece que seus colegas cardeais foram buscar o Papa no fim do mundo", em uma referência à sua Argentina natal.
Em tom sério, ele pediu aos cerca de 1,2 bilhão de católicos do mundo para "empreender um caminho de fraternidade, de amor" e de "evangelização".
Ele também agradeceu ao seu predecessor, o agora Papa Emérito Bento XVI, em um gesto sem precedentes na Igreja moderna: um Papa agradecendo a um sucessor vivo.
"Rezem por mim, e nos veremos em breve", afirmou, acrescentando que, nesta quinta-feira, pretende rezar para Nossa Senhora. "Boa noite a todos e bom descanso", finalizou, na varanda da Basílica de São Pedro, sob aplausos da multidão
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